Por muito tempo acreditei que nossa
capacidade de se apaixonar por Bandas novas ficasse restrita a determinada faxa
etária – digamos, entre 15 e 25 anos de idade por exemplo. É claro que me
baseava em um universo amostral bastante restrito para chegar a tal conclusão:
Eu, meus Amigos, Eu, meus Parentes e Eu. Afinal, é bastante comum a afirmação
que “a música atual é uma porcaria”, qualquer que seja a idade de quem faça tal
comentário. Assim, se quando tinha 16 anos eu ouvia T.Rex, Genesis, Alice
Cooper, Emerson Lake & Palmer e Led Zeppelin, ouvia também comentários que
“antigamente é que a Música era boa”. Hoje, já um ancião quase centenário, sou
eu quem profere a mesma ladainha, sempre me referindo – como todos de minha
geração – ao “maravilhoso panorama musical dos anos 70”.
Acontece que ao mostrar músicas que
sempre adorei para pessoas que nunca as ouviram, tento empatizar como se eu
fosse tal ouvinte noviço, considerando como eu mesmo analisaria aquela música
se a estivesse ouvindo pela primeira vez. O resultado é desastroso! Tente por
exemplo ouvir os quase 44 minutos de “Thick As A Brick” como se não a
conhecesse: é insuportável!
De vez em quando alguém me apresenta
um som que gosta desde seu passado, e que eu ainda não conheço: Def Leppard, Judas
Priest, etc. O Amigo está sempre entusiasmado, mas eu... acho um puta porre!
Que som adolescente! E fico pensando que o cara só gosta deste som porque
aprendeu a curtí-lo quando tinha seus 18 anos.
Isto justificaria o porquê de coisas como rap, funk, sertanejo e quetais
conseguirem fazer sucesso atualmente, apesar de serem intragáveis. Se deve ao
fato do ouvinte ter a cabeça virgem do adolescente musical, aberto para tudo, terreno
em que se plantando tudo dá.
No entanto, recentemente dois fatos
vieram a modificar esta minha hipótese. Primeiro foi a descoberta do RAMMSTEIN,
Banda de Metal alemã com base Progressiva que me encantou e de quem vim a
gostar de TODOS os discos, como se eu fosse um adolescente. Fui aos shows,
comprei os vídeos, e até voltei a estudar alemão; matusalém reborn.
Mas o golpe de misericórdia na teoria foi o disco de
2012 “Tits’n Ass”, do GOLDEN EARRING. Como já aconteceu com dezenas de álbuns
que vim a amar, eu o ouvi as primeiras vezes com bastante distanciamento. Foi apenas
quando escutava o disco pela 6ª vez que vim a entender que se trata de Uma Verdadeira
Obra Prima!!! E um raio me abriu a cabeça: não é que na adolescência nós tivéssemos
a cabeça mais aberta musicalmente; ocorre que naquela época nós ouvíamos um
disco diversas vezes antes de chegar
a um veredicto sobre ele. Nós comprávamos
discos, e os ouvíamos! Mas com o passar do Tempo e com a idade, já maduros,
experientes, impacientes, reumáticos e enrijecidos, passamos a ouvir um disco novo
apenas uma vez – ou ½ vez, se tanto – e então já o rotulamos, de imediato, e em geral de forma negativa. Não
nos aprofundamos, não descobrimos os detalhes, não nos envolvemos – e assim
fica tudo sendo mesmo uma merda!
Somente dedicamos sete ou oito audições a um disco novo
de um Banda que JÁ gostemos muito – uma daquelas que nos conquistou décadas
atrás. E assim se cria o círculo vicioso: só gostamos hoje dos discos novos de
quem já gostávamos antes!
Algumas sons eu demorei muito para compreender: passei
quase 40 anos comprando discos e ouvindo o VAN DER GRAAF GENERATOR, para
finalmente vir a me deliciar completamente com a Banda somente de 2010 para cá.
É inimaginável que atualmente eu fosse dedicar 40 anos a uma Banda que eu não
entenda...
Uma exceção honrosa a este tipo de comportamento é Mamãe:
ela sempre ouviu e curtiu coisas novas com muito mais abertura do que eu. Foi a
Miami assistir a um show “No Security” dos STONES (sem seguranças entre a
platéia e a Banda); foi ao Maracanã assistir o PRINCE na Pista; e algumas outras
peripécias definitivamente impublicáveis.
Ou talvez eu esteja errado: o som atual é mesmo uma
titica. E mesmo com 50 anos de estrada, o GOLDEN EARRING é uma exceção fenomenal!
(ago/2012)
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