sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Chan Marshall rules!

SHOW IMPECÁVEL EM SAMPA

Cat Power é “one of a kind”. Realizou um show irretocável e surpreendente.

Eu estava com muito medo de ter que aguentar um show lento e introspectivo por duas horas, mas a surpresa foi a capacidade que ela tem para usar aquela voz impressionante e manter um clima de atenção constante. Dá para dizer, inclusive, que ela mantém um clima de tensão constante porque leva as músicas de uma forma que eu fiquei com a impressão que algo grande e devastador estava na iminência de acontecer. Ela é contida, emotiva e canta de forma única, como se falasse a letra, mas sabendo exatamente as notas que tem que ser acertadas na cabeça para dar sentido e intensidade à interpretação.

Não só cantou versões muito pessoais de músicas como “House of The Rising Sun”, “Sea of Love”, “New York”, como conseguiu fazer interpretações renovadas de suas próprias e manjadas (pelos indies, pelo menos) canções, como “The Greatest”, “Moon” e “Lived In Bars”. Nessa última, ela mudou o andamento do final da música e a banda acompanhou, terminando uma canção estilo Tom Waits numa virada improvisada muito para cima. Falando em andamento, a noção de ritmo que ela tem é absurda. Ela se move para a frente e para trás o tempo todo marcando o ritmo enquanto canta lentamente, levando tempo para transmitir cada sílaba.

A banda Dirty Delta Blues foi um caso à parte. Vale buscar outras coisas deles. Não só trouxeram texturas e viagens fantásticas como sabiam se conter sob a voz dela e pirar no momento certo para compor o clima necessário e crescer a execução das músicas.

No final da última música ela explodiu em uma alegria de dever cumprido, distribuindo rosas brancas para os que se aglomeraram na beira do palco, cumprimentando e dando autógrafos, bem diferente da moça arisca que ficou fugindo dos holofotes durante o show, como se quisesse esconder, no escuro, o próprio sentimento que transmitia.

André - 23/07/2009

Radiohead no Brasil

Mr Guedes(s), Mr Martinelli e demais seguidores, como debut neste prestigioso blog, vou recapitular minhas experiências no show do Radiohead, que rolou em março de 2009.

Caros,

A despeito das tentativas muito eloqüentes de Mr. Guedes para me convencer a não ir ao Radiohead, fui.

Ainda estou sob efeito da viagem, mas posso dizer que está entre os melhores shows que já presenciei. Mesmo confessando não conhecer uns 70% do que eles tocaram. Tenho Pablo Honey, The Bends (meu preferido), OK Computer, Kid A e Hail to the Thief e, mesmo assim, não conhecia a maior parte das músicas. Talvez seja porque eu tenha uma dificuldade de entender o som e encaixar em alguma coisa conhecida. Eles são naturalmente desencaixados e mesmo assim já venderam muito disco.Mas eu estava só na minha ignorância porque o público cantou o show inteiro.

Antes de falar da música, há de se fazer um preâmbulo sobre palco. Simplesmente fantástico, com tubos luminosos gigantescos pendendo sobre a banda que simulavam texturas, chuva, velas e sei lá mais o que. Além disso, os telões mostravam ângulos completamente estranhos da banda: pés pisando em pedaleiras, microfones solitários nos quais uma cabeça surgia de quando em vez, braços de guitarra. Não era um telão para acompanhar o show caso você não tivesse boa visibilidade do palco. E falando em visibilidade, cheguei à conclusão que a geração que curte Radiohead é uns 10 cm maior do que a geração que ouve Stones, dada a dificuldade para enxergar o palco.

No quesito música, eles surpreendem muito. As músicas soam muito melhor ao vivo do que em estúdio. Os caras realmente tocam bem. Fiquei muito impressionado com a pegada do baixo e bateria, extremamente coesos e consistentes. Infelizmente fiquei muito longe do Jonny Greenwood, um dos esquisitões da banda, o cara que ganhou o Urso de Ouro pela trilha sonora do filme “Sangue Negro”. O cara consegue se divide entre a guitarra, de onde consegue passar de um solo fantástico e etéreo a um barulho infernal em segundos, e uma mesa e pedaleiras cheias de efeitos. No fim do show o cara sampleou a própria banda e fez algo como um remix, ali, sentado no chão do palco. Ele é o cara que realmente consegue dar forma para o som da banda, consegue transformar as viagens e os miados de Thom em algo musicável.

O vocalista, líder e vencedor por vários anos seguidos do título de vocalista mais estranho do mundo, Thom Yorke, fez o que se esperava dele. Foi esquisito prá cacete! Cantou sofrido, fez caretas, ajoelhou-se para agradecer a platéia brasileira e tocou pulando pelo palco. Mas também conseguiu criar climas fantásticos, trazer interpretações novas para músicas já manjadas. É realmente impressionante ver em determinados momentos 30.000 pessoas em silêncio reverente, de boca aberta, marmanjos chorando... Mas fiquei com a impressão que o cara se acha o melhor do mundo. Ou melhor, ele não se acha, ele tem certeza!

Grandes momentos – “Paranoid Android”, “Karma Police” (30.000 pessoas embevecidas cantando “I lost myself” como se a melancolia fosse a coisa mais bonita do mundo), “Fake Plastic Trees” e, é claro “Creep”.

Kraftwerk valeu pelo lado antropológico. Chato prá cacete, música dançante feita prá dormir. Ok (computer), eu não gosto de música de computador mesmo!

Acho que é isso.

Abraço a todos.

André (23/mar/2009)

O casamento de Geddy Lee


BOMBA! BOMBA! BOMBA!


Eis foto exclusivíssima do casamento do Titular Mor deste Blog.


Obs - o nome do Noivo Felizardo não foi divulgado.
(Nota - credit must be given to Mr. GLOUG, autor intelectual desta postagem).

Mulher do goleiro da Itália é eleita a Maria Chuteira mais bonita do Mundo


Já que o assunto é Futebol...


... o Buffon está pegando muito bem!


Obs - caso considere que fotos mais "artísticas" (leia-se "explícitas") sejam incluídas, registre seu comentário!

Aldo: METALLICA in VEGAS



Ao sair do "SOLD OUT" concert do METALLICA no MANDALAY BAY em LAS VEGAS, somente 3 palavras me vinham a cabeca:

SEEK AAAAAAND.....SEEK AND DESTROY!!!!!!!!!!!

Assistir ao show foi uma daquelas "last minute decisions" das quais nao me arrependo, afinal, como ja diziam as letras contidas no seminal "Scenes from a Memory" album - "Life is too short, the here and the now, and you're only given one shot".

Portanto, apos 3 full busy days trabalhando our Expo presence na Las Vegas ROCK AND ROLL Marathon Expo, no mesmo venue - Mandalay Bay Convention Center - decidir comprar o ingresso de ultima hora e, como estava na terra do Gambling, fazer uma aposta de que esse seria um tremendo show.

Nao poderia estar mais correto. Ja tinha assistido os cabras em 1992 (Queen's Freddy Mercury Tribute concert em Londres, o maior show da minha vida, e tb em companhia de Mr. Vasconcellos, Mr. Martinelli, Mr. Guedes e confraria nos idos de 1993 no Parque Antartica).

Center stage - fotos anexas, confortavelmente instalado em uma cadeira. Localizacao a metros do palco, dando para ver todos os detalhes das guitarras de James and Kirk Hammet, mais a batera de Mr. Lars Ulrich.

Show Highlights foram inumeros, a comecar pelo desfile de decotes impressionante considerando tratar-se de um show the METAL. Mas acredito que o Momento mais sublime (musicalmente falando) de toda apresentacao foi a MIDDLE SECTION do EPICO MASTER OF PUPPETS, onde a pancadaria para abruptamente, e uma SECAO ULTRA ELABORADA, MELODICA E MEGA PROGRESSIVA, executada with 100% perfection, que com certeza trouxe grandes memorias de anos passados. Outros momentos parecidos durante ONE (And Justice for All), Nothing Else Matters.

Alias outra OBRA PRIMA que concorre com MASTER OF PUPPETS no topo dos momentos mais inesqueciveis e FADE TO BLACK do fenomenal RIDE THE LIGHTNING (1984).

Durante toda a apresentacao o METALLICA mostrou que sua ORIGINAL BRAND of TRASH CRUNCHY METAL (copiada descaradamente por muitos incluindo o Dream Theater) continua viva e apuradissima. As musicas do novo (e parece que excelente) DEATH MAGNETIC estiveram SOBERBAS (petardos como Broken, Beat and Scarred e The Day That Never Comes).

"A keen student of his instrument even today" Hammett mostrou durante a noite toda completo dominio da guitarra. Nao e a toa, o cabra tomou licoes durante sua 'Kill 'Em All' tour com nada mais nada menos que Mr. Joe Satriani....

Set List perfeito, para os curiosos, esta publicado no site da banda http://www.metallica.com/

Desejo um otimo show aos amigos tupiniquins.

SAD BUT TRUE, shows como esse voce nao encontra mais frequentemente e nao da para perder.

Saudacoes Metallicas,

Leper Messiah


(dez/2009)

MG: "Switch" cover - autografado

Em uma cortesia do Senhor Star, que trouxe da Holanda diretamente do camarim do GOLDEN EARRING, segue scan da capa do SWITCH com autógrafos dos autores.



É só imprimir e substituir em seu exemplar.

MG: The Musical Box (Genesis cover)

O show do The Musical Box foi de um preciosismo impressionante, muitíssimo detalhado. Como tenho duas versões ao vivo do "Lamb", vi que eles seguiram à risca o que o Genesis fazia no palco: exatamente o mesmo que Gabriel falava, nos mesmos momentos e com os mesmos maneirismos. As jams sessions incluídas no disco também eram executadas como no original ao vivo: mais longas, mais vivas, mais pesadas. Um baterista excepcional. Além da íntegra do disco duplo, tocaram também "The Musical Box" e "Watcher of the Skies", que era o encore do show original, performances maravilhosas e inesquecíveis - a iluminação, visual e movimentação são masterpieces. Enfim, talvez bandas cover sejam "tourist traps" - mas neste caso, eu embarquei felicíssimo no muito bem montado engodo. Com a entusiasmada participação de Mr. Star, que chegou instantes antes do início do show e sentou-se exatamente a nosso lado, em excelentíssima localização.

(out/2005)

MG: Roger Hodgson 2008


Graças ao Sr. André VASCO-ncellos, que nos conseguiu pulseiras VIP, fomos Estrella & Debora e Ane & eu ao Evento São Paulo Moto Festival (vulgo '2 Rodas e Muitos Decibéis'), no Autódromo de Interlagos na noite de sábado 06/set/08.

Agradeço a insistência de Mr. Star para que eu fosse de moto apesar da ameaça de chuva (que nos orvalhou em determinados momentos). Podia-se estacionar as motos em frente às lojinhas e tendas ao longo da pista de Interlagos, no melhor 'estilo faroeste', quando se prendia o cavalo em frente aos estabelecimentos. Até a Polícia estava de moto, deixando-as estacionadas em formação e com as luzes piscando, em um feérico espetáculo. Algumas brigas de gangues de motoqueiros (incluindo facadas, tiros e feridos) trouxeram alguma apreensão ao longo da noite. O lugar não estava nem perto de cheio, o que nos propiciou excelentes localizações no open-air, inclusive em uma elevação ('morrote') do lado esquerdo do palco.

O show de ROGER HODGSON foi mágico. Ane descobriu 'que não gostava de Supertramp, mas sim do Roger Hodgson!'. Como é comum em suas gigs, ele estava todo vestido de branco, e com diversas plantas e árvores espalhadas pelo palco. Simpaticíssimo, escreveu e leu (ou ao menos tentou) a introdução de diversas músicas em português. Quando a platéia cantou 'ê-ô, ê-ô, Ro-ger, Ro-ger', ele acompanhou ao violão! Comunicativo, acessível, alto astral e com um setlist de deixar todo mundo flutuando feliz e com ótimo humor.

início: 23h45m

1. Take the Long Way Home ('Breakfast In America')
2. Give a Little Bit ('Even in the Quietest Moments')
3. Hide In Your Shell ('Crime Of The Century') (“What will you gain / making our life a litle longer?”- minha favorita; a música que me fez gostar de Supertramp)
4. You Make Me Love You (do solo 'Hai Hai')
5. Easy Does It ('Crisis? What Crisis')
6. Sister Moonshine ('Crisis? What Crisis')
7. Breakfast In America ('Breakfast In America')
8. A Soapbox Opera ('Crisis? What Crisis') (também é a minha favorita, a mais progressiva que Mr. Hodgson já fez; aliás, ele a apresentou como 'one of my favorite songs')
9. Logical Song ('Breakfast In America')
10. Along Came Mary (do solo 'Open The Door')
11. The More I Look (tb do 'Open The Door')
12. Don't Leave Me Now ('Famous Last Words')
13. Dreamer ('Crime Of The Century')
14. Fool's Overture ('Even in the Quietest Moments')
ENCORE
15. School ('Crime Of The Century'; um baixo devastador no trecho “Maybe I’m mistaken / expecting you to fight...”)
16. It's Raining Again ('Famous Last Words')

final: 01h15m

MG: Segura o Tchan!

E lá estávamos nós, a paulista/carioca SF, o casal FM & DB e eu no Credicard Hall, camarote do Citibank, matinê "É O Tchan" no Dia das Crianças.

Um show - sou forçado a confessar - além das expectativas (que eram muito baixas). São 12 (DOUZE!) músicos, 4 vocalistas e 3 dançarinos, com um palco bem produzido simulando uma selva. Muito boa qualidade de execução das músicas, um passeio por ritmos brazilianistas, turista com certeza vai amar. Os dançarinos participam de mais ou menos metade das 2 horas de show. É contagiante, e a platéia se esbaldava em fazer a ginástica ritmada comandada pelas dancers.

Bebidas alcoólicas não eram permitidas - Ms. SF teve que se contentar em acompanhar castanhas de caju com água! - mas músicas falando em Bunda, Mão Boba explícita aqui, ali & acolá (com gesticulação a caráter) e mais toda a espécie de referência sexual - ah, isto pode.

Embora os movimentos sejam semelhantes, a Sheila morena dança com muito mais graça e sensualidade do que a Scheila loura. Mas quando Ms. Carla Perez foi chamada ao palco com sua roupa branca colante brilhante - arrasou! Ela dança muito, perto dela as outras não existiam.

Cabe aqui um comentário sobre Ms. Perez: as mulheres reclamam que ela é feia, baranga, etc. Pois é justamente este o seu mérito! Ela é a prova que uma mulher não precisa ser uma Barbie, uma Top Model ou uma Miss para ser um símbolo neste país do lado de baixo do Equador. Ela deveria ser reverenciada principalmente pelas próprias mulheres.

Um show recomendável, principalmente se for em um camarote com atendimento vip, banheiro particular e sala com TV e ar condicionado; ou se tiver álcool; ou para levar turista.

(out/1999)

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

MG - Pacaembu em Transe: Deep Purple e Sepultura (2003)

(Kaiser Music, Estádio do Pacaembú, São Paulo, 20 de setembro de 2003.)


Serei eternamente grato pelo precioso empurrão de Mr. Gloug Guedes, que me levou ao open air do Deep Purple no Pacaembu, São Paulo City.

Consegui ingresso privilegiadíssimo, melhor impossível. Estabeleci-me a circa 10 metros do palco, naquele lugar que se você chegasse 8 horas antes do show e escolhesse “É este!”... seria ali. O esquema de cadeiras na pista gera este tipo de privilégio. Visão perfeita, e na boca do palco nem estava tão cheio. Bem... até que começou o show do Sepultura...

Terra em transe. Quem nunca viu o Sepultura ao vivo – e a 10 metros de distância em um estádio lotado – não tem dados para dizer que não gosta de Sepultura. É irresistível: tribal, furioso, energia e eletricidade incontidas, ritmo enlouquecedor, guitarras extasiantes, limpas (!). Agumas socialites do camarote da Kaiser atrás de mim tinham pulado a mureta e estavam a meu lado, e descobriam que seus longos cabelos eram iguais aos dos músicos, e que poderiam sacudí-los como eles, e dançar como eles, e se esbaldavam! Imagine a cena: socialites hiper produzidas dançando ao som do Sepultura e sacudindo suas cabeças como legítimas headbangers!...

A massa delirava, e a área VIP Premium onde eu e aquele monte de socialites estávamos foi furiosamente invadida. A partir daí, a situação chegou a ficar perigosa: cadeiras eram arrancadas e arremessadas para cima, ou então empurradas, prendendo as pernas de quem estava ali na frente; as rodas de pogar se formavam com extrema violência, a galera sem camisa se empurrando, chutando e socando puxada pela ferocíssima música, e a pancadaria chegava muito perto (minhas reverências a Mr. Fabio Star, a única pessoa que conheço que já enfrentou um pogar – show dos Raimundos, abertura para Aerosmith, Praça da Apoteose, RJ, no gargarejo – macho paca!).

O Sepultura está em excepcional forma. Andreas captura os desejos da massa e faz com a guitarra exatamente o que se espera dele, ou seja: tudo e mais um pouco. Não houve um único acorde fora do lugar, a altura ensurdecedora era perfeita, o ritmo contagiante, a polícia tentando timida e inutilmente botar alguma moral nas rodas, debaixo das queixas das socialites assustadas porém dançando ensandecidas. Em momentos distintos Mr. Kisser tocou a intro de “Dazed & Confused” arrancando todos os arrepios e emoções possíveis da galera, e mostrando que o Zeppelin é eterno mesmo para gente nova; e também o start de “Lazy”, anunciando ser uma honra para o Sepultura abrir para o Purple. Quem gosta de guitarra – e mesmo quem não gosta – pode imaginar o que seja a ensurdecedora guitarra do Sepultura tocando “Dazed” e “Lazy”. Não tem preço. Não tem arterioesclerose nem mal de Alzheimer que possa algum dia arrancar isto da cabeça de quem lá esteve.

Derrick Green está parecendo uma caveira preta, enorme, gigantesco, uma cordilheira de músculos, um hulk preto com olhos permanentemente esbugalhados e dreadlocks nos cabelos que vão abaixo da cintura. Presença fortíssima, arranhou algumas palavras em português, até quando ele fala “Um, dois, três, quaaaaatro” o estádio treme com sua voz gutural. Impecável.

Quando descobri Igor Cavalera, não mais consegui desgrudar os olhos. Uma bateria colossal, lindíssima, muito maior do que a do Purple, e ele furioso, compenetrado, ele era a música personificada, atento, não pensando em nada que não fosse socar alucinadamente os tambores. Para cada um dos milhares de acordes por segundo de Andreas, uma porrada na batera. Ser baterista de banda de metal é muito mais difícil do que ser guitarrista. Meu ilimitado respeito por Igor.

O show do Sepultura durou 80 minutos. Uma hora depois, às 0h15m, o Deep Purple entrava no palco para 100 minutos que ficarão tatuados em meu cérebro.

Entraram com as luzes acesas e calmamente assumiram seus lugares no palco sob delírio e ovação ensudecedora da platéia. A abertura do show com “Highway Star” em uma versão moderna, soberba e com um ritmo alucinante e alucinógeno mostrou em instantes que Steve Morse é a guitarra perfeita para o Purple, enterrando qualquer idéia de algum dia voltar a ver o mal-humorado Blackmore. Rest in peace, Ritchie; and do not haunt us again!... A galera cantou o solo junto com Steve Morse, foi a segunda vez que vi a platéia cantar um solo, a anterior fora no show do Kiss no Autódromo de Interlagos quando mais de cem mil pessoas cantaram o solo de “Detroit Rock City” junto a Ace Frehley e Paul Stanley em um momento realmente lindo; mas o solo de “Highway Star” é muito mais difícil.

“Lazy” trouxe gaita ao Deep Purple, Ian Gillan puxando uma gaita perfeita, como estão soltos e bem humorados, com um astral altíssimo. Platéia na mão, por muitas e muitas vezes um emocionado Gillan agradecia – “You are amazing”, “You are unbelievable”, “You are fantastic”, “Thank you, thank you, thank you”. Somos nós que agradecemos, Mr. Gillan.

Eu temia que o Purple só fosse tocar coisa antiga, quebrei a cara: banda ativa, viva, lançando discos, tocando coisas novas, todas irresistíveis, ritmo fenomenal, envolvente. “Perfect Strangers” é cada vez mais progressiva. Steve Morse junto à cozinha do Purple palco desfilou uma sucessão de riffs antológicos, começando por “Sweet Child o’ Mine” em uma versão que nos levou todos às lágrimas, emendando com uma “Gimme Shelter” viril e soberba – se Keith Richards ouvisse, mudaria sua forma de tocá-la – depois o solo de “Stairway to Heaven” (Gloug informa que no Rio foi “Whole Lotta Love”), emendando com “Day Tripper” (in Rio, “Here Comes The Sun”) e então... “Smoke on The Water”!!! Versão ultra moderna, ultra ritmada, eu não acreditava no que via e ouvia, chorava e perguntava ao fã a meu lado que tudo conhecia – e que já estava pegando uma das socialites bebadas – “O quê é istooooo?”. Eu não acreditava. “Eu não acredito!”. Marcio em transe.

A versão ainda mais radical e descerebradamente rocker de “Space Truckin’ ” deixou a massa catatônica, pulando todos em um só bloco conjunto e fazendo o Pacaembu balançar (Glauco descreve como “mortífera; soco no fígado”).

Outro momento antológico foi durante o solo de baixo. A platéia começou a urrar o ritmo de “Black Night”. Roger Glover, que está parecendo um enorme gnomo, está igual ao Ian Anderson, foi para a frente do palco e começou a tocar acompanhando a massa. Os músicos ficaram em silêncio e a massa berrava o riff. Pois em uma das paradas e reentradas, a banda entrou junto! E tocaram a mais emocionante versão de “Black Night” de todos os tempos, acompanhados por mais de cem mil bocas ululantes e pares de olhos lacrimejantes.

Na lateral do palco, entre várias gostosas que rebolavam, Jô Soares de camisa amarela fumava um cigarro. Talvez estivesse lá para tentar se redimir da entrevista levada ao ar na véspera, provavelmente a mais bisonha de toda a sua carreira. Ele fez as mais despreparadas perguntas de todos os tempos: “’É a primeira vez que vocês vêm ao Brasil?” “Não, é a trigésima quarta” respondeu Roger Glover (o Deep Purple tem 34 anos de carreira). “É verdade que ‘Deep Purple’ era a música favorita da avó de Ritchie Blackmore?” perguntou ele, ignorando tratar-se de um desafeto da banda. “Não sei, nós não lembramos” respondeu Ian Paice. E muitas outras no mesmo (baixo) nível. Chegou a dizer ao Ian Paice: “Você é o membro da banda com quem eu mais me identifico: é gordo como eu”...

Não vou a um show no Brasil sem sair com a mesma impressão de sempre: platéia brasileira não sabe pedir bis. Pedem com pouco “punch”, com pouco tesão, acham que “já está incluso” no pacote, que é obrigação da banda. Pedido muito chocho. Resultado: as bandas voltam pouco.
Existem uns 20 shows que classifico com “um dos melhores 5 shows de minha vida”. Iggy, Jethro, Plant & Page, Dream Theater, INXS, RPM, Barão, Blitz (na chuva), Fish, Guns, Queen, Kiss (em 85), e muitos etcs. Bem o do Deep Purple se encaixa nesta categoria: foi um dos 5 melhores shows de minha vida. Estarei em todos os shows que eles vierem a fazer por aqui. Mais uma vez fui a um mega-show sozinho; mais uma vez eu era o mais velho, o que não mais me surpreende: “Still Crazy After All These Years”...