quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

MG: Alice Cooper - Brutal Valentine

PSYCHO-DRAMA
CREDICARD HALL, 12 de junho de 2007

“This won’t hurt... much!”

Faltando 4 dias para meu 51º aniversário, sou brindado no Dia dos Namorados com uma apresentação de TIA ALICE COOPER no CREDICARD HALL, em São Paulo. A Srta. A e eu nos dirigimos ao local nos entupindo de champanhe no gargalo, e ouvindo KILLER de cabo a rabo em volume terminal no trajeto.

Tia Alice foi o primeiro “gig” internacional que assisti, em 1974. Na época ele estava em transição de banda, e excursionando com a “equipe” de Lou Reed além de seu time de estrelas. Assim, (pelo que me lembro) o show da época contou com nada menos do que QUATRO guitarristas: os originais Michael Bruce e Glen Buxton (que morreu em 1997), e mais o suporte luxuoso de Dick Wagner e Steve Hunter (someone please confirm). Assisti tanto ao show intimista no Canecão como o do Maracanãzinho.

Passados 33 anos, o público era o melhor possível, com gente de todas as idades, lotação média, espaço para deslocamentos, dança e aproximação do palco, as poltronas liberadas para quem quisesse subir e ter visão panorâmica. Muitos rockers com a pintura clássica de Alice nos olhos e cantos da boca. Um metaleiro usava uma camiseta escrita “BRITNEY WANTS ME”. E nas costas: “... DEAD”. Fomos cumprimentá-lo e indagar se tinha mandado fazer, o que ele confirmou (Alice usou esta camiseta na excusão “Brutally Live” de 2000). E antes do início do show, um gaiato desfilava pela pista gritando:
- “TODO MUNDO QUE ESTÁ DE CAMISA PRETA É VIADO!!!”

Às 22h00m as luzes se apagam, e as luzes por trás de uma imensa tela que escondia o palco projeta o contorno do próprio, de cartola e bengala. A banda ataca de IT’S HOT TONIGHT, a platéia uiva, e um SEGUNDO contorno sombreado de Alice começa a brigar com o primeiro. A primeira sombra, que fora ovacionada, é derrotada. Tínhamos ovacionado a Alice errada... A segunda se ergue, sobe a tela-cortina, e começa o delírio. Alice brinca com a bengala como o legítimo mestre-de-cerimônias que é.

A formação é clássica e essencial: dois guitarristas, baixo e o melhor baterista que se possa imaginar: ERIC SINGER, que há tempos excursiona também com o KISS (quando eles deixam de lado a ganância e o makeup). Alice sempre soube escolher muitíssimo bem sua banda, e se atualmente não excursiona mais com os guitar players Ryan Roxie e Bob Marlette, encontrou substitutos à altura nos afiadíssimos Keri Keller e Jason Hook.

O set list é impecável – creio que não cheguem a existir 10 bandas que possam se servir de um repertório tão espetacular. A segunda música é NO MORE MR. NICE GUY o que conquista de vez a platéia. Eu já começo a chorar na terceira, UNDER MY WHEELS (do obrigatório KILLER de 1971). Emendam I’M EIGHTEEN e aí o choro já é convulsivo, telefono para Gloug, para Garcia, para Lolota e para Mamãe. Somos brindados com IS IT MY BODY? e em seguida a única música do show que não conheço, provavelmente do último disco DIRTY DIAMONDS que é um dos pouquíssimos que não tenho (devo ter uns 12 álbuns da Titia). A banda assume a postura clássica de rock’n’roll no palco, os dois guitarristas e o baixista em linha jogando a cabeça para a frente e para tras, arrebentando nos riffs, e no meio deles Alice destroçando no vocal e mise-en-scène. Estou no banheiro urinando champanhe quando ouço os arrasadores acordes iniciais de LOST IN AMERICA, e enquanto pulo descontrolado (na pista, não no banheiro) telefono para Gustavo que me apresentou ao excelente THE LAST TEMPTATION, de 1994.

O set list é brutal, um fino deleite para quem conheça o trabalho de Vincent Damon Furnier: BE MY LOVER, que jamais pensei ouvir ou ver ao vivo; RAPED AND FREEZIN; LONG WAY TO GO (!!!); MUSCLE OF LOVE; PUBLIC ANIMAL #9; DESPERADO; a inacreditável HALO OF FLIES, talvez a melhor música de todos os tempos; ainda por cima executam uma versão de mais de 10 minutos, com uma seção rítmica com os dois guitarristas abandonando seus instrumentos e também tocando bateria sob luz estroboscópica, ou seja, TRÊS bateristas e mais o baixo, seguida pelo solo de bateria do monstro Eric Singer (ainda bem que a PORRA do Peter Criss foi embora do KISS, eu sempre achei que a bateria era suspensa no show deles para evitar que “O Gato” fosse apedrejado com bosta). Como li certa vez no site da CDNOW: mesmo que o KILLER não fosse o álbum magistral e irrepreensível que é (de minha parte, foi simplesmente o disco que me fez gostar de música), ele já seria obrigatório pela simples presença de HALO OF FLIES. Por mim o show já poderia terminar aí mesmo...

Mas não. Seguiram-se WELCOME TO MY NIGHTMARE (com teatro de seres sem face, inclusive uma noiva!), COLD ETHYL, e com 1 hora de show uma balada: ONLY WOMEN BLEED. Alice dança com uma boneca vestida de Enfermeira, bate nela, a joga nas escadarias do palco, de repente não é mais uma boneca mas sim uma loura linda e gostosa que dança balé pelo palco. Pois Alice continua a estapeá-la no rosto até que ela o interrompe segurando-lhe a mão, para delírio da platéia. A música acaba e emenda com STEVEN e então DEAD BABIES, quando Alice empurra um carrinho preto de bebê. Ele tira o bebê do carrinho, o ergue nos braços, a platéia não consegue ser mais ensurdecedora do que já está sendo, Alice coloca o bebê de volta no carrinho, crava-lhe uma estaca no peito, dá marretadas, e finalmente ergue o bebê em triunfo, segurando-o pela estaca atravessada. Entram médicos de preto sem face e colocam uma camisa de força no vocalista enquanto a banda toca THE BALLAD OF DWIGHT FRY do também obrigatório LOVE IT TO DEATH, também de 1971. A versão é longa, pesada, espetacular! Emendam um extrato de DEVIL’S FOOD, Alice fugiu da camisa de força e do palco, os médicos o procuram. Começa KILLER e uma gigantesca forca com patíbulo adentra o palco. Alice foi capturado, e será enforcado, o que efetivamente acontece ao som ensurdecedor daquele ZZZZZZZZZZZZZZ de guitarras distorcidas ao final da música. A platéia está totalmente enlouquecida, um show inacreditável. A Srta A está emocionada e sorridente, descobriu que show de Rock pesado pode ser o máximo, como é bom se descobrir metaleira. Chegamos perto dos músicos, passamos o show passeando pela pista e chegando bem próximo ao palco, às vezes vamos para trás e subimos para a privilegiada vista das cadeiras que hoje estão liberadas, e de onde se vê tudo; depois descemos novamente para dançar, os seguranças estão particularmente carrancudos mas hay que enfrentá-los, it’s only rock’n’roll but we need it! O corpo enforcado de Alice é retirado do palco ao som de um extrato de I LOVE THE DEAD cantado pelo guitarrista. Alice reaparece de blaser branco, cartola branca e bengala, e põe a platéia para cantar e pular com SCHOOL’S OUT. Enormes bolas de borracha são jogadas para lá e para cá pela audiência, e quando chegam ao palco são espetacularmente furdadas por Alice que a esta altura maneja uma espada de pirata, causando explosões e chuva de confetes. É o fim do show, às 23h24m.

Mas é claro que tem encore: em BILLION DOLLAR BABIES Alice brande a espada cheia de dinheiro cravado, e joga as notas para a platéia (ele faz isto desde sempre, durante décadas eu guardei as notas que peguei naqueles shows de 1974). Segue-se POISON e a reação entusiasmanda da platéia me surpreende, pois é uma música de 1989 (disco TRASH) e não a imaginava tão conhecida. E o final antológico com ELECTED, estamos bem perto do palco enquanto Alice discursa:
- “I know we have problems in Curitiba; I know we have problems in Belo Horizonte; I know we have problems in Rio; but frankly... I DON’T CARE!”
, enquanto figurantes carregam cartazes escritos “He doesn’t care”, “Wild Party”, “School’s Out”, etc. Em campanha presidencial, Alice sacode a bandeira do Brasil, e chegamos ao final de 100 minutos eletrizantes de Rock’n’Roll.

Eu teria escolhido – ou melhor, acrescentado – algumas músicas mais recentes, pois os últimos discos da Titia – especialmente a trilogia BRUTAL PLANET / DRAGONTOWN / THE EYES – são fenomenais. Para quem perdeu o show resta perseguir o Homem mundo afora, ou então se deleitar com o dvd BRUTALLY LIVE.

Sempre marco encontro com a galera junto aos palcos, no final de qualquer show, pois é sempre fácil chegar lá. Mas neste caso não foi: a pista junto à boca do palco estava ENTUPIDA de gente mais de 10 minutos após o término. Um fã chegou a invadir o palco, pegar alguma coisa, fazer um stagediving e se perder no meio da massa enquanto os seguranças ficavam putos e apontando inutilmente de cima do palco... Fui lá para a frente para tentar pegar alguma nota do dinheiro, mas o pessoal se acotovelava em busca de souvenirs de... Eric Singer! Ouvi o seguinte diálogo entre dois pitbulls, um dos quais com uma baqueta na mão:
- “Pago QUALQUER COISA por esta baqueta!”
- “Não vendo por dinheiro NENHUM!”
- “Pôrra, eu sou fã do cara desde o BADLANDS!...”
- “ Eu TENHO uma música chamada Badlands!!!...”

O público era de todas as idades, mas qual seria a reação dos mais novos frente a tal avalanche sonora? Ainda na pista, entreouvi de um vintagenário:
- “Puta que o pariu, QUE SHOWZAÇO!!!”
Uma descrição que sumariza tudo o que vivemos neste Valentine.

Outra medida do sucesso da gig foi a enorme quantidade de gente que se aglomerava em frente ao stand de venda de camisetas na saída. É muito raro ver tanta gente comprando camiseta depois do show. Uma dica quanto às camisetas é a loja CONSULADO DO ROCK nas GRANDES GALERIAS (atualmente mais conhecidas como GALERIA DO ROCK). A CONSULADO produz as camisetas oficiais de muitos shows; tem ótima qualidade, belas estampas e bons preços – principalmente se você adquirir as peças diretamente nas GALERIAS.

O mundo pode ser dividido entre as pessoas que já viram Alice Cooper e Eric Singer ao vivo, e as que não viram.

(jun/2007)

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

MG: Eu caí direitinho!

Graças a uma muito bem engendrada armação dos amigos deste Blog, acabei re-ouvindo por inteiro um disco que consegue ser mais chato do que qualquer um do Caetano.

Um disco pretensioso, repetitivo, sem nenhuma criatividade e com um vocalista "melê", que canta como se lhe tivessem enfiado um dedão no cu - e sem cortar a unha!

Imagino como tenha sido difícil para o Aldo escrever que o "OK Computer" do RADIOHEAD (aquela mistura de PEPINO DE CAPRI com PINK FLOYD) é um disco progressivo... Ou talvez ele estivesse rolando de rir ao redigir semelhante barbaridade, que depõe não somente contra todos os discos progressivos da história, mas também contra sua própria credibilidade pessoal.

Talvez esta sub-banda PEPINO DE FLOYD seja boa ao vivo, como registrou o Sr. Vasco'n'Cellos - mas neste caso os mesmos amigos deverão assistir ao DREAM THEATER, que se não produz bons discos de estúdio, é excepcional on stage.

Enfim, vocês me pegaram. Conseguiram me fazer ouvir por inteiro uma das piores - se não A PIOR - bosta de toda a história.

Parabéns pelo sucesso da pegadinha!


PS - agora entendo a recomendação de Vasco'n'Cellos de que eu deveria ouvir COLDPLAY e RADIOHEAD para ver a diferença. Realmente, em comparação ao PINK DE CAPRI, o COLDPLAY é uma banda autêntica, criativa, viva e pulsante. Obrigado pelo toque!

(fev/2010)