(01/fev/2000)
Temos a oportunidade de assistir a duas horas de aula de História recente ao som de uma requintada trilha sonora: "Velvet Goldmine" está em exibição em um restritíssimo circuito de cinemas.
Trata-se da história romanceada de algumas figuras cruciais do "glam rock" andrógino do início dos anos 70, focando o então genial David Bowie e o vulcão permanentemente ativo Iggy Stooge (hoje "Pop"). Um terceiro personagem engloba o que seria Andy Warhol com um "molho" de Marc Bolan e Brian Ferry.
A caracterização de Bowie é perfeita, mas a performance de palco de Ewan McGregor como Iggy é absolutamente antológica. Ele já arrasara em "Star Wars - Episode I", e não fosse eu um limitado heterosexual, já estaria apaixonado pelo cabra. Seu mise-en-scène executando "TV Eye" é puro Iggy nas veias, e ali vemos o nascimento do rock mais visceral do planeta. Quem acha que existe criatividade na música / performance atuais precisa ver Bowie de joelhos no palco frente a Mick Ronson, agarrando-o pela bunda e chupando louca e desenfreadamente sua guitarra em uma das mais célebres cenas da história do Rock, aqui reproduzida à perfeição.
Estas duas seqüências já valeriam o filme inteiro, mas também a trilha sonora é primorosa: 3 músicas do primeiro disco do Roxy Music (incluindo "Ladytron" e "Virginia Plain"), 3 do primeiro Brian Eno (com uma longuíssima sessão da alucinógena "Baby's on Fire"), 3 do T. Rex (uma incendiária versão da incendiária "20th Century Boy"), "Satellite of Love" do chatinho Lou Reed; "Gimme Danger" e a já citada "TV Eye" de Iggy, e muitos etcs, em versões originais e/ou regravações à altura - ou ainda mais altas.
Não se deixe levar por minhas palavras, no entanto. O filme chega a ser boring, e meu entusiasmo se deve à trilha sonora formada por puro delicatessen. Para pesquisadores, apreciadores, dinossauros e alucinados, trata-se de uma película obrigatória (com no mínimo algumas cervejas na mochila); mas para quem está satisfeito e acredita que acontece alguma coisa inteligente no panorama musical atual, é preferível se manter na felicidade da ignorância e continuar achando que existe alguma espécie de vida neste limbo povoado por zumbis...
Belíssima dica, Mr. Martinelli.
Saudações at the loudest volume!
Márcio, você foi corrompido pelo meio em que vive. Estão transformando as suas convicções com relação à viadagem, de modo que os conceitos arraigados em função de sua educação pequeno burguesa estão se esvaindo como que deixando sua verdadeira essência sair do armário.
ResponderExcluirDesejo toda a sorte do mundo nesse seu novo momento de vida, afinal, dizem que nunca é tarde para mudar de idéia.